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06, terça, 19h: Lançamento do livro Aqui jasmim, de Caroline Millman (Editora Modelo de Nuvem)

O que diz Fabrício Carpinejar sobre o livro:
“
Caroline Milman é contida, guardada, recatada.
Não se espera dela nada, a não ser bons modos.
Nem leia o livro se quer manter essa imagem dela.
Porque seus olhos claros escondem tormentas. Suas pétalas, como lâminas, atraem insetos indefesos.
Aqui Jasmim cheira a pecado. Cheira a volúpia. Cheira a voragem de flor.
É perfume no pulso da página. No pescoço do poema.
Versos sestrosos, livres, corajosos. Caroline recorda de sua infância com a habilidade hipnótica. Fala aquilo que muitos temem, transborda de ofensas e verdades.
Dificilmente uma estreia é tão pungente, delicada e verdadeira. É uma estreia cheia de pequenas mortes e remorsos.
Ela nos devolve o inconsciente.
Quem nunca foi forçado a dormir de tarde pelos pais?
“Horas demais em silêncio.
Tanto assim que eu mesma piei
chamando os pássaros.
De longe talvez
o carro que dobrou uma esquina antes.
Inerte na cama que ocupava o centro.
Eu pregada na cruz da tarde quente
fingindo que dormia.
E duas horas depois
fingindo que acordava
contente.”
Assim, a cada página, somos acordados repentinamente da dormência dos hábitos, da infância que a gente julgava resolvida e acabada.
Há uma sequência de quadros familiares impecáveis, regressando ao quarto-sala-cozinha-corredor da criação dos anos 70. Crianças desafiam as convenções e pressentem a maturidade desde cedo.
É admirável a composição das cenas. Com um Amarcord gaúcho, a memória vai se fazendo em espiral, cíclica.
Meninas descem a rua aos dez anos, com a alça da camisa caindo, e logo se transformam em noivas casando, em mães gerando outras meninas descendo a lomba.
O único apoio para a leitura é o suspiro. A escada do suspiro.
“No terraço, o pai explica o trovão.
A mãe busca picolés antes da chuva.
Eu me encosto no suspiro de meu irmão”
Não é livro para rir ou chorar, é livro para respirar fundo em busca de ar.
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