Pequena nota desentranhada da leitura de Szlezak, por Jaime Medeiros Jr.
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Recentemente topei com interessante passagem no livro Ler Platão de Thomas Szelezak comentando a crítica. Passagem que parece deixar claro o quão saudável, mesmo quando demolidora, pode ser a crítica, em alguns casos, mesmo que paradoxalmente, pode vir a fortalecer uma obra. Szelezak cita o caso de Homero que sofreu a crítica dos melhores dos pré-socráticos. Heráclito queria bani-lo dos festivais. Xenófanes zombeteiramente arguia que fossem os bois erguer imagens dos deuses e delas fariam bois. Os deuses homéricos eram demasiadamente homens.
Poderiam os gregos, já a esse tempo, pôr no lixo a Ilíada e a Odisséia? Parece que Homero já havia sido instituído, era o mestre de uma civilização, os gregos vinham beber sabedorias nele, os filhos dos melhores aprendiam grego com ele. Como dizer, então, que ele nada mais valia?
Os gregos optaram por ler novamente Homero. E disto criaram formas de interpretação alegóricas de sua obra. Homero não dizia necessariamente o que queria dizer, a sabedoria precisava ser desentranhada do poema por novos aparatos interpretativos. O que, de um modo paradoxal, tornou Homero ainda mais importante.
E talvez aqui pudéssemos lembrar Propp ou Campbell, que afirmam que uma narrativa, ou a jornada do herói só poderão se realizar com a aparição de um antagonista. Uma obra literária parece muitas vezes também só alcançar seu destino através de uma fricção com inóspito território da crítica. O que poderá lhe obrigar a se conduzir por novos caminhos, cuidando de forjar novas leituras, mais convincentes para as novas mentalidades.
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Jaime Medeiros Jr. é poeta portoalegrense (1964), pediatra. Autor do livro de poemas Na ante-sala. Mantém os blogs Tênues Considerações e O Arco da Lira
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E no sopro de Nélson Rodrigue digo, teatro é platéia, então, por associação: Literatura seria o quê?… acredito que todos escrevem para ser lidos, simples assim… bem aí, temos que nos perguntar, sim, o que é Literatura e , ao te ler, sigo me perguntando , refletindo…e olha que nem falaste em Joyce(rs).
Beijos, bom início de semana, sempre bom estar entre tuas palavras meu amigo. Gracias!!
Carmen.
Maravilha de nota, Jaime! Sempre acreditei na importância de um bom contraponto crítico. O penoso deste caminho é que há um discurso forte de fruição e vaidade (além do limitadíssimo “só pode criticar quem faz”) que tende a desqualificar a priori o discurso crítico. Grande perda como se nota.
A crítica constrói a obra. É fundamental não só para o artista, que precisa do contraponto para desenvolver sua obra e sua argumentação, mas inclusive e talvez principalmente para o desenvolvimento da obra depois que ela deixa o artista… as leituras que a sociedade faz – e a crítica, aí, é uma dessas leituras, a mais intelectualizada, mas não necessariamente a única, pelo menos no caso de obras que se tornam fenômenos sociais, como os exemplos citados da Ilíada e da Odisséia – ressignificam a obra, que não poucas vezes atinge dimensões que o artista nunca pretendeu.