17
maio
12

A prosa ligeira de Jaime Medeiros Júnior.: Pequena anotação após ler Augusto dos Anjos

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Pequena anotação após ler Augusto dos Anjos, por Jaime Medeiros Júnior

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O que há de se buscar num poeta? Nada mais do que aquilo que nele se ergue como belo. Creio que de todo perdemos quando, como modernos, nos acostumamos a medir o mundo com o acento futurístico do novo. Tendemos a escorar o entendimento de tudo o que por ventura surja das páginas lidas em uma qualquer linha evolutiva. Criamos o limite a ser ultrapassado [um mito?], não se devendo tomar nada do que ficou atrás. Vivemos o modernocentrismo do verso.

Reli Augusto dos Anjos. Foi bem bom relê-lo. Pois meio acomodado à batida dos modernos, estava algo satisfeito de roer o meu ossinho feito de essências e medulas. Augusto parece habitar um grande entroncamento de estilos, pois que apresenta rompantes de moderno encrustado em seus poemas, como:

Caía um ar danado de doença

Sobre a cara geral dos edifícios!

 

Parece, contudo, que sua temática funda-se bem mais em temas simbolistas, como:

em tudo, igual a Goethe, reconheço

o império da substância universal.

 

Poesia que sempre está a metamorfosear-se no entrechoque dos opostos e na efemeridade das coisas, isso tudo com um acento lúgubre – há algo de barroco no nosso poeta?

Como há de se dormir com este barulho? E aqui o poeta, que não fora educado no gosto moderno pelo sintético, acabou por carregar nas tintas. Grandes doses de adjetivos e sonoridades esdrúxulas, que parecem aproxima-lo do povo [um dos nossos poucos best-sellers em poesia], que parece sentir para além do dito, o que guarda de ribombos e ventanias entretecidos no aparente abstruso de seus versos.

Paro aqui e penso. Talvez o melhor que possa tirar da leitura de Augusto dos Anjos neste momento é o poder tomá-lo como exemplo de que a nossa receita moderna de síntese não deva ser considerada como a única válida. E que talvez devêssemos nos desacostumar com entenderes postos sobre linhas evolutivas. E nos aproximar mais de um entendimento baseado no movimento ondulante entre opostos; do exagero a síntese, da síntese ao exagero.

Jaime Medeiros Jr (1964). Médico pediatra. Escritor portoalegrense. Publicou Na ante-sala (poemas, 2008) e Retrato de um tempo à meia-luz (crônicas, Modelo de Nuvem, 2012). Publica bissemanalmente no blog da Palavraria e no seu blog Simples Hermenáutica.

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